“E lhe perguntou: ‘Amigo, como foi que você entrou aqui sem o traje de festa?’ Mas o homem nada respondeu. Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrem os pés e as mãos desse homem, e o joguem fora na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes’.” Parábola da Festa de Núpcias (Mateus: 22,12-13)
Nada poderá
suceder de mais funesto ao homem do que o suicídio.
Dessa
desgraça inominável já houve verdadeiras epidemias nos tempos ominosos do
materialismo romano.
Nas modernas sociedades,
múltiplos são os seus fatores. Sob diversos aspectos e formas, o suicídio
contribui com enorme porcentagem para o obituário em geral, ora determinado
pelas obsessões dolorosas, ora pelas dificuldades e desalentos da vida terrena.
O suicídio
supõe sempre a ilusão, de que se acha o candidato possuído, de se libertar da
insuportável carga de dores e tristezas que o acabrunham e lhe envenenam a
vida.
Todavia, que
funesta ilusão!
Fala-vos
quem, sob as torturas de uma dolorosíssima opressão moral, também cedeu à
atração do abismo e supôs libertar-se da conta que, de muito, lhe estava
assinada, interrompendo o curso da existência.
Enganei-me,
meus caros irmãos.
Longe de
extinguir o sofrimento, este recrudesceu e se tornou mais íntimo e profundo
aqui no Espaço, onde não há noite, nem sono, e parece eterna a provação da
alma.
Cedi à
vaidade mundana de honra e do prestígio.
E, no
entanto, vejo agora, no meu mal sem remédio, que bem melhor fora abstrair
dessas futilidades para cuidar do que é eterno e imorredouro: a existência do
ser e seu progresso através das etapas do Universo.
Contam-se por
milhões os desgraçados que, como eu, se debatem na treva depois de terem sido
pasto da ignorância e do orgulho.
Se eu tivesse
podido saber que todos os ouropéis da vida terrena não valem uma só das
verdades que aqui constatais diariamente, teria certamente evitado, por um ato
de coragem e resignação, esta horrível geena em que agora me debato.
O suicídio é
a maior desgraça que pode suceder ao Espírito.
Ato de
rebeldia insensata contra os desígnios da Providência, encarna o desespero do
réu que se quer libertar, por fraqueza, do compromisso anterior que assumiu por
seus erros.
É uma afronta
à Divindade, inútil e covarde.
Inútil,
porque jamais poderá o ser aniquilar-se, visto que ele é eterno qual o próprio
Pai e Senhor de quem emana.
Vede agora a
triste situação em que se encontra o suicida ao desprender-se do corpo; mais
vivo do que nunca, sobrevém ao pungente padecer a surpresa alucinante de se ver
indestrutível, incapaz de modificar de um só detalhe o destino que lhe foi
traçado.
Sofre no
Espaço as consequências do seu orgulho, com a obrigação de voltar à matéria
para terminar a missão que tão loucamente interrompera!
Sede fortes,
vós que me ledes, quando vos assaltar o sofrimento.
Afugentai,
com todas as forças da vossa alma, a negra visão do suicídio, porque,
desventurados, se nele cairdes, se cederdes às suas tenebrosas sugestões, então
se abrirá para vós o verdadeiro inferno, aquele em que, sem metáfora, mas real
e dolorosamente, há choro e ranger de dentes.
No suicídio
se nivelam todas as dores, porque ele determina o maior e mais desesperado de
todos os sofrimentos.
A dor, a
negra, a profunda dor, dentro da tremenda impressão de que não haverá
misericórdia, nem remissão para o réprobo, o covarde, o trânsfuga, que jogou à
face da Justiça do Divino Pai o saldo da sua conta.
Pensai nisto
e jamais admiti, nas vossas amarguras, a ideia desse terrível tentador – o
suicídio.
OBS: O relato acima é do
Espírito, que quando encarnado fora magistrado, Dr. Raul Martins, e que
desertou da vida em 21 de novembro de 1920. Se quiser, acesse notícia de periódico da época: [clique aqui].
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