Em uma grande
cidade um homem caminha desesperado. Seu maior anseio é uma corda. Na vida já
tinha ambicionado coisas maiores e mais valorosas. Tivera sonhos de glória,
dinheiro, posição. Mas tão inconstante quanto as dunas de areia de um deserto,
são os interesses humanos.
Não queria
mais nada disso. Só uma corda era o que desejava e nada mais. Em vista dos
grandiosos e maravilhosos sonhos anteriores, uma medíocre corda era a solução
para tudo o que ansiava naquele momento.
Para que
viver, se nem sua consciência era mais sua amiga? Tinha perdido todos os amigos
e não encontrava consolo nem em si mesmo.
Dor, culpa, vergonha,
solidão. Só quem parecia lhe estender os braços convidativos era a morte. Sabia
que a morte não era amiga de ninguém. Nunca foi! Mas era a única a demonstrar
algum interesse por sua sofrida alma. E imaginar que há tão pouco tempo estava
rodeado de poderosos. Todos eles subordinados ao seu poder de escolha. Uma única palavra sua era, como de fato o foi,
capaz de decidir o destino de muitos, poderosos e não poderosos.
Contudo, como
todo ser humano é falho, no momento decisivo não se apercebeu da imensa
repercussão que a escolha poderia causar em si próprio e nos outros. Queria
governar os acontecimentos, só que não foi capaz de prever todas as
consequências a repercutirem de seu ato. Tivera poder para causar um incêndio,
mas fora incapaz de apagá-lo.
Miséria!
Miséria! Miséria! Das maiores, a rainha é a morte. Então por que não pedir a
ela que trouxesse a solução para todos os males, uma vez que todas as iniquidades
do mundo se curvam diante de seu torpe trono?
Suicídio era
o objetivo e uma corda, o meio. Segundo erro grave cometido em um mesmo dia,
pois, se tivesse atentado para a sabedoria da vida, perceberia que até a corda
em seu trágico mister daquele momento precisava do apoio de algo para
funcionar. Do mesmo modo que a miséria tão comum a seres falíveis como nós
humanos precisa do apoio seguro e exclusivo da misericórdia.
Tão fácil
como achar incompreensão entre criminosos, foi encontrar aquela cujo nó bem
feito parecia ser a que de fato desataria os nós das escolhas equivocadas
feitas até aquele momento.
Escolheu um
lugar ermo. Como um erro parece sempre levar a um outro erro, avistou uma
árvore, normalmente símbolo de vida. O seu gesto equivocado não teimava só em
se repetir descontroladamente dentro de sua cabeça. Também se repetia em suas
atitudes como um ciclo vicioso do erro. O seu equívoco causaria a morte de um exemplo
de vida e agora para si mesmo buscava a morte embaixo de um símbolo da vida. Mas
o que é erro para os homens, é acerto para Deus. A árvore serviria de
sentinela, a lembrá-lo que a vida sempre reinará soberana mesmo em presença dos
equívocos humanos.
Judas
Iscariotes se enforca. Sim, ele mesmo! Incapaz que era, naquele momento, de
perceber que, não muito distante, a Misericórdia Viva, o Cristo, sofria com o
resultado de sua traição, não tanto no corpo como seria de se esperar, mas
principalmente na alma por saber que um filho de seu amor havia escolhido a
morte ao invés da luz revigorante de sua misericórdia. Ele que tantas mostras
de seu amor incondicional havia dado em presença do apóstolo apóstata.
Quando o
Senhor, na cruz, disse: “Pai, perdoai,
pois eles não sabem o que fazem”, Judas também estava sendo lembrado. Maior
do que a dor de mil pregos a rasgarem a carne, foi a dor da Misericórdia em
pessoa, impotente que estava naquele momento, ao ver um filho cair no abismo e
não poder ir junto para o amparar na queda.
Mas ao
contrário do egoísmo, a Misericórdia não tem memória curta. Nada que é objeto
de seu amor fica esquecido ou perdido. O que caiu será levantado; o que buscou
a morte, encontrará a Vida, ainda que por caminhos dolorosos. Pois, assim
determina o Amor infinito e eterno do sempre compassivo Autor da Vida.
Muita paz.
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