Qual é a
causa da animalização da matéria?
“Sua união
com o princípio vital.”
(Q. 62 de O Livro dos Espíritos).
Por muito
desgraçados, pois, que sejam as galés do Vale, ou os transviados que se aprazem
no mal e cujo raio da ação se encontre no caminho de nossas atividades, jamais
se acharão desamparados, pois os servos de Maria velam por eles com o auxílio
destes magníficos aparelhos de visão e comunicação e os socorrem no momento
oportuno, isto é, desde que eles mesmos estejam em condições de serem
socorridos, transportados para outro local. Mas... existe uma como
fatalidade a extrair-se do ato mesmo do
suicídio, contra suas atribuladas presas, a qual impede sejam estas socorridas
com a presteza que seria de esperar da Caridade própria dos obreiros da
Fraternidade: - é o não se encontrarem
elas radicalmente desligadas dos liames que as atêm ao envoltório carnal, isto
é, o se conservarem semi-encarnadas ou semidesencarnadas, como quiserdes!
As potências
vitais que a Natureza Divina imprimiu em todos os gêneros da Criação e, em
particular, no ser humano, agem sobre o suicida com todas as energias da sua
grandiosa e sutil atividade! E isso graças à natureza semimaterial do corpo
astral que possui, além do envoltório material. Viverá ele, assim, da vida
animal ainda por muito tempo, a despeito mesmo, em vários casos, da
desorganização do corpo de carne! Palpitarão nele, com pujança impressionante,
as atrações vivíssimas da sua qualidade humana, até que as reservas vitais,
fornecidas para o período completo do compromisso da existência, se esgotem por
haver atingido a época, prevista pela Lei, da desencarnação. Em tão anormal
quão deplorável situação permanecerá o suicida, sem que nada possamos fazer a
fim de socorrê-lo, apesar da nossa boa-vontade! Isso, meus filhos, assim é que
é, e vós, mais do que ninguém, o sabeis! É de lei, lei rigorosa, incorruptível,
irremediável porque perfeita e sábia, a nós cumprindo procurar compreendê-la e
respeitá-la, para não nos infelicitarmos pelo intento que tivermos de violá-la!
Daí a
calamidade que sobrevém aos suicidas e a impossibilidade de abreviarmos os
males que os afligem. O que lhes sucede é um efeito natural da causa por eles
próprios criada, pois se colocaram na melindrosa situação de só o tempo poder
auxiliá-los. O que a benefício deles podemos tentar, nós o tentamos sem medir
sacrifícios: - é, de quando em vez, ou melhor, em ocasião justa e adequada,
organizarmos expedições de missionários voluntários, que até seu inferno desçam
a fim de encaminhá-los para esta instituição, onde são asilados e devidamente
orientados para o respeito a Deus, de quem não se lembraram jamais, quando
homens; é nos reunirmos para o cultivo de orações diárias em seu benefício,
irradiando centelhas benéficas de nossas vibrações em torno de suas mentes
superexcitadas, procurando abrandar as ardências dos sofrimentos que
experimentam com suaves intuições de esperança! Se não se conservassem tão
alucinados, soçobrados nos boqueirões da desesperança, da funesta descrença em
Deus, na qual sempre se comprazeram, perceberiam os convites à oração que todas
as tardes lhes dirigimos, ao cair do crepúsculo, assim como as falas de
encorajamento, intentando despertá-los para o advento da confiança nos poderes
misericordiosos do Pai Altíssimo, pois não devemos olvidar que tratamos com
povos cristãos que mais ou menos se emocionam ao recordar a infância distante,
quando, ao pé da lareira, junto ao regaço materno, balbuciavam as doces frases
da anunciação de Gabriel à Virgem de Nazaré, que receberia como filho o
Redentor da Humanidade... e nós nos vemos na preocupação de lançar mãos de
todos os recursos lícitos para, de algum modo, enxugar as lágrimas desses
míseros descrentes que se precipitaram em tão pavoroso abismo!
Sempre que um
condenado tiver extinguido ou mesmo aliviado o carregamento de vitalidade
animalizada – esteja ele sinceramente arrependido ou não –, avisaremos o serviço de socorro da Vigilância, o qual
partirá imediatamente ao seu encontro, trazendo-o para a guarda da Legião.
Então, tal seja a sua condição moral – arrependido, revoltado, endurecido –
será encaminhado por aquele Departamento ao local que lhe competir, conforme já
sabeis: - o Hospital, o Isolamento, o Manicômio e até para esta Torres, pois,
como dissemos, em virtude de ainda não nos acharmos devidamente instalados,
acumulamos afazeres, mantendo, aqui mesmo, postos auxiliares para custodiar
grandes criminosos dos quais seja cassada a liberdade por demasiada
permanência nas vias do erro, isto é –
suicidas-obsessores.
O trecho acima
foi extraído do livro Memórias de um Suicida, cap. I, segunda parte, o qual
mostra a postura sempre misericordiosa dos bons espíritos para com todos os
suicidas, que, contudo, muitas das vezes esbarra no fator tempo. As forças
vitais animalizadas que ainda impregnam o corpo espiritual de tais infelizes necessitam
ser diluídas. Tais forças se extinguiriam com a morte natural e involuntária do
corpo, mas que no suicídio estão ainda em pleno vigor de sua função. Para
entender melhor, podemos fazer uma certa comparação com a redução de cabelos no transcorrer da
idade. Se levarmos um puxão no cabelo quando mais jovens a dor será maior, pois
que maior também é o número de fios a serem abarcados pela mão agressora.
Conforme vamos envelhecendo e os fios escasseando, menor será a quantidade
destes para serem puxados e assim a dor de eventual puxão será menor. Quem
sabe, o agressor nem encontre fios para agarrar, o que será melhor ainda. O
mesmo se dá com o fluido vital. Este vai se gastando com o decorrer da vida,
mas no suicida não teve tempo suficiente para tanto e acaba ainda por
impregná-lo na vida além-túmulo.
Assim, em
tudo consideremos o fator tempo.
Tempo, tempo,
tempo... Sempre amigo ou inimigo. Se respeitado, descortina horizontes, cura
dores, vence tudo... Se negligenciado, imperará poderoso e autoritário contra a
nossa ainda imatura, impaciente e orgulhosa vontade.
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