“Jovem
caprichosa, contrariada em meus impulsos afetivos, acariciei a ideia da fuga,
menoscabando todos os favores que a Providência Divina me concedera à estrada
primaveril.
Acalentei a
ideia do suicídio com volúpia e, com isso, através dela, fortaleci as ligações
deploráveis com os desafetos de meu passado, que falavam mais alto no presente.
Esqueci-me
dos generosos progenitores, a quem devia ternura; dos familiares, junto dos quais me empenhara em abençoadas dívidas
de serviço; olvidei meus amigos, cuja simpatia poderia tomar por valioso escudo
em minha justa defesa, e desviei-me do campo de sagradas obrigações, ignorando
deliberadamente que elas representavam os instrumentos de minha restauração
espiritual.
Refletia no
suicídio com a expectação de quem se encaminhava para uma porta libertadora,
tentando, inutilmente, fugir de mim mesma.
E, nesse
passo desacertado, todas as cadeias do meu pretérito se reconstituíram,
religando-me às trevas interiores, até que numa noite de supremo infortúnio
empunhei a taça fatídica que me liquidaria a existência na carne.
.............................................................................................................................
Imensa
repugnância pela deserção, de súbito, iluminou-me a alma; entretanto, na penumbra do quarto, rostos sinistros
se materializaram de leve e braços hirsutos me rodearam.
Vozes
inesquecíveis e cavernosas infundiram-me estranho pavor, exclamando: - “É
preciso beber”.
A benção do
socorro celeste fora como que abafada por todas as correntes de treva que eu
mesma nutrira.
Debalde minha
mão trêmula ansiou desfazer-se do líquido fatal.
Esvaíram-se-me
as forças.
Senti-me
desequilibrada e, embora sustentasse a consciência do meu gesto, sorvi, quase
sem querer, a poção com que meu corpo se rendeu ao sepulcro.
.............................................................................................................................
Em razão
disso, padeci, depois do túmulo, todas as humilhações que podem rebaixar a
mulher indefesa...”
(VOZES DO
GRANDE ALÉM, cap. 39, edição da Federação Espírita Brasileira).
Nenhum comentário:
Postar um comentário