O SUICÍDIO E A LOUCURA
A calma e a resignação
adquiridas na maneira de encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao
Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo da loucura e do suicídio.
Com efeito, a maior parte dos casos de loucura é provocada pelas vicissitudes
que o homem não tem forças de suportar. Se, portanto, graças à maneira porque o
Espiritismo o faz encarar as coisas mundanas, ele recebe com indiferença, e até
mesmo com alegria, os revezes e as decepções que em outras circunstâncias o
levariam ao desespero. É evidente que essa força, que o eleva acima dos
acontecimentos, preserva a sua razão dos abalos que o poderiam perturbar.
O mesmo se dá com o suicídio. Se
excetuarmos os que se verificam por força da embriaguez e da loucura, e que
podemos chamar de inconscientes, é certo que, sejam quais forem os motivos
particulares, a causa geral é sempre o descontentamento. Ora, aquele que está
certo de ser infeliz apenas um dia, e de se encontrar melhor nos dias
seguintes, facilmente adquire paciência. Ele só se desespera se não vê um termo
para os seus sofrimentos. E o que é a vida humana, em relação à eternidade,
senão bem menos que um dia? Mas aquele que não crê na eternidade, que pensa
tudo acabar com a vida, que se deixa abater pelo desgosto e o infortúnio, só vê
na morte o fim dos seus pesares. Nada esperando, acha muito natural, muito
lógico mesmo, abreviar as suas misérias pelo suicídio.
A incredulidade, a simples
dúvida quanto ao futuro, as ideias materialistas, em uma palavra, são os
maiores incentivadores do suicídio: elas produzem a frouxidão moral. Quando
vemos, pois, homens de ciência, que se apoiam na autoridade do seu saber,
esforçarem-se para provar aos seus ouvintes ou aos seus leitores, que eles não têm nada a esperar depois da morte? Não os vemos tentando convencer os outros de que, se são infelizes, o melhor que podem fazer é matar-se? Que
poderiam dizer para afastá-los dessa ideia? Que compensação poderão
oferecer-lhes? Que esperanças poderão propor-lhes? Nada além de nada! De onde é
forçoso concluir que, se o nada é o único remédio heroico, a única perspectiva
possível, mais vale atirar-se logo a ele, do que deixar para mais tarde,
aumentando assim o sofrimento.
A propagação das ideias
materialistas é, portanto, o veneno que inocula em muitos a ideia do suicídio,
e os que se fazem seus apóstolos assumem terrível responsabilidade. Com o
Espiritismo, a dúvida não sendo mais permitida, modifica-se a visão da vida. O
crente sabe que a vida se prolonga indefinidamente para além do túmulo, mas em
condições inteiramente novas. Daí a paciência e a resignação, que muito
naturalmente afastam a ideia do suicídio. Daí, numa palavra, a coragem moral. O Espiritismo tem ainda, a esse respeito, outro resultado igualmente positivo, e talvez mais decisivo. Ele nos mostra os próprios suicidas revelando a sua situação infeliz, e prova que ninguém pode violar impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem abreviar a sua vida. Entre os suicidas, o sofrimento temporário, em lugar do eterno, nem por isso é menos terrível, e sua natureza dá o que pensar a quem quer que seja tentado a deixar este mundo antes da ordem de Deus. O espírita tem, portanto, para opor à ideia do suicídio, muitas razões: a certeza de uma vida futura, na qual ele sabe que será tanto mais feliz quanto infeliz e mais resignado tiver sido na Terra; a certeza de que, abreviando sua vida, chega a um resultado inteiramente contrário ao que esperava; que foge de um mal para cair noutro ainda pior, mais demorado e mais terrível; que se engana ao pensar que, ao se matar, irá mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo à reunião, no outro mundo, com as pessoas de sua afeição, que lá espera encontrar. De tudo isso resulta que o suicídio, só lhe oferecendo decepções, é contrário aos seus próprios interesses. Por isso o número de suicídios que o Espiritismo impede é considerável, e podemos concluir que, quando todos forem espíritas, não haverá mais suicídios conscientes. Comparando, pois, os resultados das doutrinas materialista e espírita, sob o ponto de vista do suicídio, vemos que a lógica de uma conduz a ele, enquanto a lógica de outra o evita, o que é confirmado pela experiência.
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