O Espírito, uma vez unido ao corpo da criança, e não lhe
sendo possível retroceder, lamenta a escolha feita?
“A sua pergunta é se, como homem, se queixa
da vida que tem? Se desejaria outra? Sim. Se lamenta a escolha feita? Não, pois
ignora que a escolheu. O Espírito, uma vez encarnado, não pode lamentar uma
escolha da qual não tenha consciência; mas, pode considerá-la acima de suas
forças, e é então que recorre ao suicídio.” (Q. 350 de O Livro dos
Espíritos)
A nossa
inteligência faculta-nos a possibilidade de soluções para os mais diversos
tipos de problemas, mas sempre dentro de certos limites traçados pela mãe
natureza.
Assim, salvo
em situações de emergência, ninguém nunca poderá concordar com a realização do
parto de um bebê antes do tempo adequado, ou seja, nove meses. Está
estabelecido pela mãe natureza o prazo necessário para que a criança na barriga
da mãe reúna as condições mínimas necessárias para poder sobreviver no mundo extra-útero. É uma forma de maturação que em essência significa que tudo deve
obedecer a um certo tempo já definido para que o resultado seja o adequado.
Desde a feitura de uma prosaica receita de bolo até a maturação de um bom
vinho, tudo está sujeito a um processo em que uma série de fatores se encadeiam
em uma sequência lógica e temporal.
A vida encarnada
não poderia ser diferente, pois ela também é um processo lógico e temporal,
isto é, tem começo, meio e fim.
Agora, vendo o
processo da vida, sob a ótica espiritual, podemos metaforicamente considerar
nosso corpo físico como sendo uma espécie de útero no qual nós espíritos
encarnados estamos inseridos e em processo de desenvolvimento contínuo causado
pelas múltiplas experiências, dolorosas ou prazerosas, que a vida carnal nos
proporciona. Antecipar a saída deste “útero”, via suicídio, assemelha-se a um
aborto, ou seja, expulsar o feto do ventre materno antes do tempo. Com o feto
já sabemos o que ocorre: morte. Mas o que ocorre com o espírito imortal do suicida,
digamos, “abortado” da vida por vontade própria? Esta é a questão!
No
suicídio houve um desrespeito ao ciclo natural e necessário estabelecido na
espiritualidade. Logo, o retorno prematuro à vida espiritual eterna, não há de
ser agradável. É como alguém que falta a um serviço ou a uma aula sem motivo
algum. Esteja onde estiver, sempre estará no lugar errado e isto, por si só, já
é fator de desconforto para a alma desiludida. É uma sensação de estar
deslocado, desambientado e com a agravante da consciência culpada por causa da
ingratidão perante a bondade divina que lhe deu a vida em um ato de amor. Vida
muitas das vezes sofrida, bem o sabemos, mas que se traduz no único veículo que
nos aproxima mais de Deus. Doer ou não doer tem menor importância se por conta disso nos
distanciamos do nosso Criador. Uma criança que cai, se machuca e sente dor
instintivamente corre para os braços da mãe e não foge deles. Isso é o natural e
não o contrário.
Deus é
a nossa mãe e estava nos aguardando aqui quando saímos da espiritualidade para
esta aventura que é a vida física e certamente estará nos aguardando também na
vida espiritual quando para lá formos. Seja pela forma natural, seja pela forma
ingrata do suicídio, Ele sempre estará a nos aguardar, pois que é Pai e um pai,
no sentido real e amoroso desta palavra, quer sempre o bem verdadeiro para seu
filho ou filha.
Pensemos
nisso!
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